quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Uma peça




A vida é como uma peça de teatro
Onde os atores às vezes se perdem
Achando que são não o que são
Mas os personagens que representam

A vida precisa ser vivida
Enquanto a peça acontece
Antes que a cortine se feche
Com ou sem aplausos

O que fica é o assimilado da peça
Quando o auditório se esvazia
E os espectadores de afastam
Comentando de atores e papéis

Peça que nem sempre consegue algo transmitir
Nem sempre consegue a todos agradar
Nem sempre apresenta alguma relevância para existir
Nem sempre sabe simplesmente silenciar.

Cocais, Novembro/2009
Heloisa Trad

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Natal






Mais um Natal...
Dia 25 de dezembro
nascimento
presépio
árvore
Papai Noel
símbolos
que deveriam falar
de vida
e não
de coisas... presentes... 

Compras desenfreadas
ceias de pura gula
competição

insatisfação
endividamento
insanidades
que falam
do desconhecimento de si
na alienação do Sistema
nesse dar presentes...e presentes...


Natal
pode ser
celebração alegre

pela união
de seres que
tem prazer em estarem juntos
que se amam
que são presentes!


Para você, alegria, paz, saúde... sempre! Sem neve, sem chaminé, sem luzinhas pisca-pisca, sem o bom velhinho, mas... com a sua luz interior guiando seus passos!


Cocais, dezembro/2009
Heloisa Trad

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A beleza

A beleza está nos olhos de quem sabe ver
e só é possível ver
se de lado ficar conceitos e preconceitos,
deixando o já visto, para surgir o que há de se ver.

Mente vazia, coração pacífico,
um olhar virginal descobre
no agora o novo.
Podendo então a beleza aparecer.

Cocais, novembro/2009
Heloisa Trad

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Amor maior


Agradeço a descoberta da minha vitalidade
ao lhe pegar no colo.
Agradeço a confiança que você tem em mim
se entregando em mais um rodopio.
Agradeço a oportunidade de ter
seus olhos nos meus olhos.

Agradeço ainda
nossas sessões de beijos,
as brincadeiras de esconder,
as provocações para brincar,
as piscadinha de olhos,
os sorrisos enternecedores,
a voz angelical dizendo:
- vovó! vovó!

Esse o amor maior...

Cocais, outubro/2009
Heloisa Trad

domingo, 15 de novembro de 2009

Não me adapto



Não me adapto a parecer ser
o que não sou, quem não sou
para viver uma vida
pré-determinada no desconhecimento
da minha real identidade

há seres que acreditam saber
o que é a vida
o que são nessa vida
e vivem iludidos, perdidos
aos céus a clamar

antes não tivesse aportado aqui
acreditando num produtivo viver
e minha mente clarear
mas me vejo como dentro de um escuro túnel
sem nenhuma luz que possa me iluminar

ninguém nunca vai me entender
porque pensam que a tal vida
na estética mal ajambrada
vale a pena ser levada

as normas e as regras
que nos dizem para seguir
não me servem, não me valem
não me dizem para que estou aqui

acabo perdida no não ser
me decepciono com os iguais
que marcham em silêncio
sem nada querer saber

cabeças em piruetas
sorrisos de hienas
pés pesados,
arrastados e arrastando ao léu

a indiferença a tudo me invade
à margem, a nada me adapto
desconheço o endereço
da minha morada nesse mundo

o que buscava jamais encontrei
estou onde não sou
quero o que não tenho
me perdi nesse mundo de ninguém

eu não me adapto
e só me resta o cansaço

Cocais, março/2010
Heloisa Trad

domingo, 8 de novembro de 2009

Espelho


Espelho, espelho meu,
mostra mais do que quero ver,
mostra emoções que nego ter,
mostra rugas que busco esconder,
mostra o que não quero mostrar,
deixando entrever
o que do outro lado está.

Espelho que me atrai, fascina,
assusta , intimida.
cruel no seu escancarar
as mazelas da minha imagem
nesse meu entardecer.

Meu espelho criminoso,
cúmplice de mentiras
no esconder muito
não do que se está
mas do que se é.

Espelho, espelho meu,
haverá no mundo
alguém que saiba mais
de mim mesma do que eu?

Cocais, novembro/2009
Heloisa Trad

sábado, 7 de novembro de 2009

Eu Sou Feliz



Sou feliz
Mas particularmente hoje
além de ser,
estou feliz.


Como o amor
nos ilumina.
Daí nós iluminamos tudo
e todos a nossa volta!


A chuva fica mais aconchegante.
O verde das plantas, brilhante.
Os olhos das pessoas, falantes.
O ar cheio de rósea alegria.


Estou particularmente feliz
porque você voltou!


Cocais, novembro /2009
Heloisa Trad

Encontro/Desencontro


A todo momento eu te encontro
a todo momento eu te perco
uma oscilação atordoante

uma visão que como a de um oásis
para o peregrino perdido, logo se esvai
e a crua realidade da sobrevivência cai

esquecer-te é o meu desejo
mas como faze-lo se teimas
em viver em mim?

pensar no que foi, ou pior,
no que poderia ser
é um ato do qual não me livro

me perco na luta de vida e morte
para me esquecer de ti
que é o mesmo que esquecer de mim.




Cocais, outubro/2009
Heloisa Trad

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Quem?


Quando eu pergunto quem sou,
sou o que pergunta
ou o que responde?

Quando penso o que sou
sou quem pensa
ou sou o pensamento?

Quando silencio a mente
sou quem cala
ou sou o próprio silêncio?

Sou quem nada pergunta
quem nada responde
aquele além do agora.

Cocais, outubro/2009
Heloisa Trad

domingo, 25 de outubro de 2009

Ânsia


Ânsia de ter tudo
o  tédio de consumir
a pobreza de achar
que ser é ter para valer
e no falso brilhar se apagar.

Ânsia de nada precisar
alegria de ser livre
para sem bagagem perambular
neste novo porvir
sem a nenhum poder se reduzir.

Cocais, outubro/2009
Heloisa Trad

sábado, 17 de outubro de 2009

Nomes vazios




nome, uma palavra,
uma palavra vazia
sem significado real

nomear, instituir ou designar
alguém ou alguma coisa
se iludindo que um significado há
num nome vazio e num continuum de erros
leva ao desconhecimento

signos dependentes de transformação
nada mais do que isso as nomeações são

ensinamentos são um conjunto de palavras
deuses, mestres, gurus, são aparições ilusórias
sem consistência nenhuma

procurar o inexistente
é estar amarrado pela delusão
cultivando dores e sofrimentos

a não forma é a real forma
a existência  do mundo tríplice não tem marcas
o verdadeiro é sem nome, sem imagem, sem forma
transcendente, livre, não é constrangido
por símbolos, signos... vazios!

o mundo é apenas mente
a miríade das coisas
semelhantes aos sonhos

Cocais, outubro/2209
Heloisa Trad

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Desiludida

Ninguém vê o meu pranto,
mas choro...
Ninguém vê minha tristeza,
mas uma nuvem negra me envolve...
Ninguém vê a minha dor,
mas no silêncio sofro...

Sofro,
pela violência,
pelo individualismo,
pela destrutividade,
do meu semelhante.

Sofro,
pela injustiça,
pelo egoísmo,
pela crueldade,
dos irracionais seres humanos.

Sofro,
pela esperteza,
pelo desamor,
pela maldade,
que assola a humanidade.

Canso-me,
na constatação da minha impotência.
Invade-me,
uma desesperança frente à sociedade.
Nada quero,
não há papel para mim nesse teatro de absurdos.

Sem fé no amor que me movia,
nada sei.
Com minhas certezas destruídas,
nada desejo.
Com meus sonhos descartados,
nada espero.
De desilusão em desilusão,
fecho-me.

De onde vim?
Para onde vou?
São perguntas irrespondíveis.

Elas me moviam,
mas a falta de respostas,
paralisou-me.

Parece que o sentido da vida
é procurar sentido
no sem sentido.

E assim fico andando
em círculos, atrás do meu rabo,
querendo viver,
querendo morrer,
sem sucesso
em qualquer dessas empreitadas.

Cocais, setembro/2009
Heloisa Trad

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Recortes na montanha

Há momentos na vida
Em que o máximo que percebemos
É recortes...
Vemos ao longe seus contornos turvos
perdemos os detalhes,
visualizamos apenas partes
e jamais o todo.
Perdemos as diferentes nuances
e mergulhamos numa indefinida visão.
Nos sentimos perdidos...
Vivendo sem sentido!
Acreditando no não...
No nada... no vazio!

Cocais, Setembro/2009
Heloisa Trad

O tempo

Que são anos?
Que são dias?
Que são horas?
- O tempo vazio!

O calendário passa,
o relógio anda,
eu ando, e como ando,
mas a vivência fica.

Você fica Hybsen.
Nossa vida juntos fica,
no ontem,
no hoje
e quiçá no amanhã.

A saudade fecha a garganta.
Um grito silencia.
Lágrimas secam.
Braços permanecem vazios.

Cocais, 16 de setembro de 2009
Em homenagem ao meu sempre filho Hybsen (16-09- 74 – 04-12-1996)
Heloisa Trad

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Sonho

Sonho com um sono sem fim
bem leve, calmo...
De bebê a dormir.
Sono apaziguador...
Sempre almejado por mim!
Deitada tranqüila na relva do jardim,
corpo relaxado,
pensamento silenciado,
fico tão quieta...
que ao me olharem
estarei como morta
tomando lugar em meu ser...
Muito sono eu tenho.
Cansada, vou para cama dormir...
Até de novo ter que os olhos abrir!

Cocais, agosto/2009
Heloisa Trad

domingo, 23 de agosto de 2009

Só uma imagem

Quando olho no espelho
e não me reconheço
quando olho minha foto
e me desconheço
a pergunta no ar
é se sou real
ou só o ideal
criado a partir da minha cabeça
feita pela sociedade má.

Sou como sou
mais do que imagens
captações dos meus sentidos
- radares defeituosos -
que me posicionam
perante a vida!

Cocais, agosto/2009
Heloisa Trad

sábado, 22 de agosto de 2009

Dormir sem sonhos

Em noite sem luar
tolo na cama a rolar
sonhos horríveis eu tenho
até enfim, acordar.

Não posso sonhar
sonhos são imagens
do meu viver agoniado,
de desejos descartados.

Mas Dormir é preciso
para sair dessa realidade feia e cruel
que me enlouquece.
É preciso dormir sem sonhos.

Pesadelos tenho acordado
nesse viver desordenado,
até adentrar num sono profundo
- pequena morte até o dia raiar!

Cocais, agosto/2009
Heloisa Trad

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Noite escura

Em noite sem luar
tolo na cama a rolar
sonhos horríveis eu tenho
até enfim... acordar!

Não posso sonhar
sonhos são imagens
do meu viver agoniado
de desejos descartados.

Dormir é preciso
só, na noite escura,
a pensar, a rolar de lá para cá
até o dia raiar e pesadelos afastar.

Cocais, ago/2009
Heloisa Trad

Esquecer é preciso

A todo momento eu te encontro
a todo momento eu te perco.

Sempre vejo em mim um pouco de ti
visão essa que como de um oásis
para o peregrino perdido, logo se esvai.

Esquecer-te é o meu desejo
mas como faze-lo se teimas
em viver em mim?

Pensar no que foi, ou pior,
no que poderia ser,
é um ato do qual não me livro.

Me perco na luta de vida e morte
para me desprender de ti.

Cocais, ago/2009
Heloisa Trad

terça-feira, 30 de junho de 2009

A morte, o morrer

levamos toda a vida morrendo em surdina
no trabalho, no amor, acordados, em sonhos
já nascemos morrendo
e vivemos temendo morrer

a vida é a vigilância da morte
até que o corpo entre em falência
e a morte o consuma no seu fogo veemente
sem nos consumir

- viva a morte!

Cocais, junho/2009
Heloisa Trad

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Círculo

somos o nada
voltando ao tudo que éramos
uma trajetória única
nessa Roda da Vida

nesse girar sem cessar,
somos sempre quem somos
experienciando quem estamos
e não somos...

nesse círculo nos perdemos
nessa círculo nos achamos
nesse eterno girar, eu e você,
sem começo e sem fim

Cocais, junho/2009
Heloisa Trad

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Muralha

Proteção, isolamento, paz,
que se faz presente
e mantem ausente o indesejado,
dificultando a aproximação do desejado.

Muro denso, alto, intimidador,
que ensombrea meu espaço
de cimento, pedras, areia.
Forte e frio agride olhos com sua figura
e encobre o horizonte, sonho de aventura.

A muralha me separa de você,
me separa de mim,
tira a luz do meu caminho
e me deixa envolvida por sombras.

Cocais, junho/2009
Heloisa Trad

Linda e Feia


Já me acharam linda
quando me via feia.
Já me acharam feia
quando me sentia linda.
Já me olhei no espelho
e me vi linda.
Entre a minha imagem ideal
e a do espelho não havia diferenças.
Também já me vi feia,
Ao olhar meu reflexo, pensei:
- não pode ser eu!
Independente de linda ou feia
era e é sempre eu.
Hoje não consulto mais o espelho.
Sou linda!
Se você não me vê assim...
O problema é seu!

Minhas pernas doem,
mas minha cabeça já não pesa tanto.
Ando devagar
mas saio sem buscar aprovação de alguém.

Minha mente falha,
esqueço nomes, esqueço datas, esqueço lugares.
Minha memória está cada vez mais seletiva,
descartando o que tem pouco ou nenhum significado.
Guarda com carinho os momentos bons,
registra para sempre os grandes amores...
Ignora todos os valores
que não são genuinamente meus!

Hoje sou linda... hoje eu sou eu!

Cocais, junho/2009
Heloisa Trad

Oliveira

Valença, oliveira, azeite,
nomes que lembram meu pai.
Janeiro do seu nascimento,
junho de sua inevitável morte
ao sessenta e sete anos de idade.

Por aqui Celestino passou,
lembranças e saudades deixou.
Marcou o meu ser,
completou sua missão
e ao pó voltou ...

Careca, olhos azuis,
a me fitar com integridade,
ao segurar minha mão
rumo ao Parque Municipal
no passeio dominical.

No carrossel em rodopio
ficava a sonhar
com boneca, pipoca e sorvete
na segurança de filha amada
protegida por esse homem valente,
de Valença... Península Ibérica.

Seus amores eram o tango,
- el dia que me quieras, o predileto –
Omar Kháyyam, espiritismo, maçonaria
ternos de linho, chapéu
e a linda Geroliza – minha mãe.

Que saudades dele meu Deus!

Cocais, maio/2009
Heloisa Trad

Em homenagem e ele, de Kháyyam:

“O bem e o mal disputam a primazia neste mundo.
O Céu não é responsável pela felicidade
ou pela desventura que o destino nos reserva.
Não agradeças pois, ao Céu, não o acuses também.
Ele é indiferente às tuas alegrias,
Indiferente aos teus pesares”.

sábado, 23 de maio de 2009

A beleza, o fotografo e o poeta

onde está a beleza?
no olhar do fotografo?
no objeto olhado?
no coração do poeta
que a imagem contempla?

são as mesmas verdades
são as mesmas belezas...
há nisso tudo unicidade
ou sincronicidade...

o que para mim é beleza?
ilusão da minha mente
- mente de poeta -
que imagina e sente
com os olhos a essência
dessa flor que
numa película foi entronizada
como a mais linda rainha
por mim fantasiada!

o fotografo, a flor e o poeta
numa cumplicidade ímpar
buscam a efêmera beleza
buscam a essência, a vida,
- ilusória ou não –
capturadas em seus olhos
em ínfimas frações de tempo
a serem eternamente registradas.

Cocais, maio/2009
Heloisa Trad

sábado, 25 de abril de 2009

Palavras Sem Sentido

As palavras pelas bocas são jorradas
A palavra dada e desvalorizada
A palavra não enunciada
- palavra silenciada.

Palavras ditas e não pensadas
Palavras pensadas e não ditas
Se amontoam como lixo arqueológico
Para mais tarde serem interpretadas
Com significados que não tinham
Sem os significados que retinham
Inconsequentemente articuladas
Ouvidas distraidamente
Por mentes despreparadas
São verdadeiras agressões ao ser
Ou, nem são captadas...
Voam ao leu!

O sentido das palavras
Se perde no sem sentido
Invoca o silêncio que fala mais alto
Invoca o escutar o que o silêncio diz
O meu silêncio, o seu silêncio
Tão rico de sentido
Porque sem palavras sem sentido.

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

No escuro

No escuro eu me escondo
No escuro eu procuro
No escuro uma luz eu procuro
No escuro eu me procuro

No escuro eu me vejo
No escuro eu anseio
No escuro eu caminho
No escuro um caminho encontrei

No escuro eu me vi
No escuro eu me achei
No escuro descobri
Quem eu sou e que só eu sei

No escuro tudo ficou claro
Como o sol de meio dia
Para quem pouca visão tem
Até perceber que a luz vem de dentro de mim

No escuro me ilumino...

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

Quem é você?

Quem é você
Que se esconde de mim
Que se esconde de si
Para depois aos dois procurar
Numa insanidade sem fim?

Quem é você
Que no escuro da noite
Brilha qual facho de luz
Alumiando o caminho
Para você e para mim?

Quem é você
Que leva meus sonhos
Que me traz mil desejos
E depois se afasta de mim
E desconhece até mesmo a si?

Quem é você
Que acalenta minhas esperanças
Que me lança num poço
Solitária, em silêncio, sem fé
E permite que eu me perca de mim?

Quem é você
Amigo ou inimigo
Que colado em mim
Não me deixa esquecer
De me lembrar de mim?

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

Ser uma pedra


Ser uma pedra
Nada sentir
Nada pensar
Nada desejar

Tudo suportar
Deixar-me ficar
A céu aberto
Imune às intempéries

Tudo suportar
Um transporte
Pega por mãos
Pega por guindastes

Tudo suportar
Ser quebrada
Triturada e espalhada
Pelo mundo que criastes

Quero ser uma pedra
Sem rancor...
Sem dor...
Quieta só a testemunhar

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Só vim me conhecer

Não sou daqui
estou aqui.
VIM
pelo vir-a-ser,
ME
autocriar nesse amanhecer
CONHECER
o entardecer ... a longa noite ...
E ENCONTRAR
a aurora do meu ser !
O SER,
que cria a ilusão de não ser ...

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

Cansada em silêncio

Há muito que necessito do silêncio
me afastei do dito social,
me afastei de grupos,
de lugares movimentados,
de relações que nada me dizem...

Telefone eu atendo,
e-mails escrevo pouco
chats? – Nem pensar.
falar o quê?
para quem?
para quê?
das insanidades do mundo,
da Terra, do Brasil...
me afastei!

Estou cansada
há muito tempo...
Hoje falo com poucos e pouca coisa.
Não quero ser nada.
Não quero ter nada.
Não quero nada!

Não busco ter razão.
Não procuro ser boa.
Não mostro ter algum conhecimento
e muito menos saber para alguém.

É isso. Só isso.
O resto é silêncio...
Silêncio que me conforta,
me alimenta,
me fala,
me ouve...
E cansada, sigo o caminho
iluminado por ele.

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

Eu sou feita


Eu sou feita

de cacos de sonhos descartados.

Sou feita

de lágrimas e sorrisos sem razão de ser.

Sou feita

de mil lembranças e milhões de esquecimentos.

Sou feita

de atos impensados originados de pulsões.

Sou feita

de instintos mais primitivos do que dos cães.

Por isso escrevo quase numa obsessão,

livre e descompromissadamente

sem ter que denunciar nada,

criticar nada, louvar nada

ou agradar alguém.


Só escrevo...

no papel, com lápis, com caneta,

com o microcomputador.

Simplesmente escrevo,

palavras que voam da minha mente,

com rima, sem rima,

com sentido, sem sentido,

permitindo-me expor

como sou feita.


Então escrevo e escrevo...

detalhes percebidos,

acontecimentos vividos

ou idealizados,

expectativas não realizadas,

que quero elaborar, pondo fora,

o que está dentro de mim!


Jorram poemas, poesias...

pequenas peças da qual eu sou feita.

Preciso escrever...

Escrevo...

meus encantos e desencantos

escondidos num canto do meu ser.


Cocais, abril/2009

Heloisa Trad

domingo, 29 de março de 2009

A palavra e a pedra

Eu quero ser pedra.
É... ser pedra!
Pedra, não é interpretada.
Pedra é sentida, pesada,
pegada, quebrada,
jogada, largada,
jamais interpretada
como uma palavra enfim.

Eu não quero ser palavra,
que analisa e é analisada,
imbuída em conceitos,
distorcida, ela pode ser
mal ou bem interpretada
sem atingir a verdade,
realmente pensada
e sentida por mim.

A pedra é pedra
sem discussão, sem alteração,
na sua grandeza imutável.
A palavra pode à vontade
ser usada a bel-prazer
de quem fala e escuta
tornar-se um bálsamo
ou um instrumento mortal.

Eu quero ser pedra...

Cocais, março/2009
Heloisa Trad

Água purificadora


Água parada
estagnada
sem vida,
não é água.

Água tem que fluir
para o mar,
para um rio,
sempre a murmurar.

Água é para molhar,
interagir, lavar
o corpo e a alma,
ao ser, purificar.

Cocais, março/2009
Heloisa Trad

Cansado

Estar cansado,
é estar esgotado
não mais querendo
estar apegado
a rotina da vida,
ao viver normativo
calcado no ter.

O cansaço surge
ao se sentir diferente
ao querer entender o ente
só podendo ser expresso
na linguagem poética.

A palavra de poeta
é suada, carregada
de metáforas, de sonhos,
fantasias...
Na busca do ser!

Ao expressar o sentir
A palavra não pode ser
pensada, analisada,
e muito menos interpretada
senão estamos de volta
ao ponto de partida
sem cansaço sentir.

Cocais, março/2009
Heloisa Trad

sexta-feira, 13 de março de 2009

A vida é um rio

no rio
as águas correm soltas,
livres
na vida
tentamos moldar a corrente
construindo represas
barragens, usinas,
pontes
que as águas tudo derrubam
e seguem, ora rugindo,
ora silenciosamente deslizando,
em meio a obstáculos
que vagarosamente
e inexoravelmente
vão sendo levados
pela corrente

há três formas
de se lidar com o rio:
em suas águas mergulhamos
e seguimos a corrente
ou sentamos a beira do mesmo
e aprendemos silenciosa e pacientemente
a ouvi-lo
também podemos
dar-lhe as costas
e em direção contrária seguir
perdendo sua música,
o saciar de nossa sede,
os peixes que matam nossa fome
e, sobretudo, o acariciar inigualável das águas
em nossa pele seca

vou sentar-me à margem do rio
a ouvi-lo ...
até que eu e ele sejamos um
sem conflitos, sem medos,
sem indagações sobre foz ou nascente
fluindo simplesmente
porque é rio

Cocais, março/2009
Heloisa Trad