sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O Oculto


Tantos recantos ocultos...

Em algum canto obscuro
estão os sonhos,
as vãs esperanças,
as expectativas
do ir e vir
do que quero
do que espero
pra mim e pra ti.

Tão oculto...
que nem mesmo sei
se só eu que espero por ti
ou se imagino querer pra mim
alguém que seja meu par.

Em algum canto de mim
mora o desejo de ser
a oculta imagem divina
que dizem existir
pra acalentar o meu devir.

O oculto... onde está?
nos recônditos daqui, dali
acolá...
ignorado por mim
mas sabendo enfim
que algo no íntimo há
querendo ou não
se revelar.

Tanto de mim eu oculto...

Outubro/2008
Heloisa Trad

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

AMOR, O QUE É?

O que é o amor?
Quem é o amado?
Quem é o amante?

Amor, muitas vezes,
palavra carregada e corrompida
cheia de emoção exacerbada
pensamento deturpado
sentimento de puro encantamento,
sexo, procriação, vida!

Mas o amor não é nada disso.
Temos idéias a respeito do amor,
idéias sobre o que ele deve ou não deve ser,
um padrão, um código, uma virtude criada
pela cultura em que se vive.

O amor é pessoal ou impessoal?
Moral ou imoral? Familial ou não?
É para um só amado e não para muitos?
Se digo "amo", priorizo um e excluo outro?
Amar a humanidade, permite amar o indivíduo?
E amar amado inclui toda a humanidade?

Poderá a mente encontrar o amor
sem precisar de educação, de instrução,
de idealização, de coerção, de devoção,
com consciência na necessidade de atenção
- o motor para o encontro amado-amante -
de realização de ambos ou não, pela atenção.

Amor pode assim ser só atenção,
uma predisposição de alguém – o amante,
pelo o bem de si através de outrem.
O bem do outro através de um se empenhar,
de forma terna ou ardente,
com atração física ou não.

Esperar idilicamente do amado uma atenção,
que ele não tem por sua necessidade outra ser,
é se iludir, buscar o sofrer por não compreender,
que o que determina a união amado-amante,
- um elo, o amor, que pode durar muito ou não -
é apenas o desejo dissimulado
de apenas se satisfazer!

Cocais, outubro/2008
Heloisa Trad

Atenção

O amor é muito simples
e muito difícil de viver
enquanto símbolo de fantasia
nessa procura de um sonho
e no encontro pouco correspondido.

O amor está além do pensamento,
do sentimento e da emoção.
Não está na cabeça nem no coração.
Ele surge como chama efêmera
e pouco a pouco se extingue
no caminho do crescimento humano.

Amar é um relacionar com o outro,
consigo mesmo, sabendo
permear o encontro com atenção
as necessidades do outro
e a própria busca de atenção
por satisfação, no outro...

Amor sonhado não é
a realidade imaginada, nem vivida.
Para se manter faz se mister
o sentir-se valorizado e
ter as expectativas atendidas.

Cocais, outubro/2008
Heloisa Trad

domingo, 12 de outubro de 2008

Bela Margarida

Um paralelo de ti eu faço
entre a lua e o sol, no espaço
entre a clara e a gema
do ovo, nascer da esperança,
riqueza da mãe terra.

Tu me encantas
quando conto
em tuas pétalas
os caminhos da busca
que te levam
ao interior do teu eu.

Alegrias em lágrimas choradas,
tristezas em sorrisos escondidos,
num caule altaneiro,
que te sustenta nas intempéries,
às vezes arqueando...
sem contudo cair!

Bela margarida prossiga
na resistente procura
do sentido da tua vida!

Cocais, outubro/2008
Heloisa Trad

Imaginário


o que é isto
que vejo
e não entendo?

miragem nessa seca
delírio de sonhador
imaginação do sofredor?

será o real
que como um louco
sempre procuro?

será a ilusão
que cria no mental
a fuga do real?

mundo virtual
de um buscador
cheio de perguntas vãs...
sem respostas!

imagem que vejo
diferente do outro
diferente do mundo
do que me ensinaram a ver...

imaginário que crio
em que penso que penso
em que acho que vivo
e nem sei se sou eu que vivo...

Cocais, outubro/2008
Heloisa Trad

sábado, 11 de outubro de 2008

Mente Voadora

estudo namoro
durmo acordo
segurando a mente
que voa, voo...

sem lastro sem rumo
pureza do ser
que olha e não vê
nem mesmo você!

Cocais, outubro/2008
Heloisa Trad

domingo, 5 de outubro de 2008

Espírito e Matéria


Impossível pensar o espírito
em oposição à matéria
espírito é impensável e indizível.

No é o eu que pensa o espírito,
o espírito é que busca se mostrar
através de um limitado e insano ego.

A não-mente não precisa saber
quem sou ou o que sou
ele é a verdade: o que sou.

A minha mente mundana,
que se aliena no desconhecimento,
é dirigida pelo ego, ilusão, no corpo.

Imagino o espírito como íntegro
e todos os instantes de consciência
emanações do espírito na matéria.

Cocais, outubro/2008
Heloisa Trad

sábado, 4 de outubro de 2008

SENESCER

Meu amigo senescente
sentidos alertas
nessa fase da vida
em que toda sabedoria
se encerra
no aprender a desaprender
vivendo como uma pluma
- plainando suave -
na alegria da vida!

Senescência
é há muito possuir
qualidades de bem viver.

Senescer
não é tornar-se desusado
e sim se perceber.

Senescente
que vive
o momento presente
sabendo
que sua primordial tarefa
não é dominar
mas se render
- não a um aglomerado de doenças
e ressentimentos -
a força contida
na simplicidade e na integridade:
a riqueza que é a VIDA!

Meu amigo,
viva a vida simplesmente!



Cocais, outubro/2008

Heloisa Trad