domingo, 17 de fevereiro de 2013

O meu sempre fotografar



Não tenho cenas bizarras para registrar,
Tenho uns poucos animais ao meu redor,
Tenho o céu infinito, as montanhas e as matas já bem depredadas,
E os cursos d’ água ameaçados de acabar.
Tenho ainda o humano insano, a poluição geral,
E o deus-Mercado,  poderoso e dominador,
Que aponta comportamentos e caminhos
que me recuso a trilhar e até mesmo a fotografar.

Tiro fotos desse meu mundinho
Querendo compartilhá-las,
Mas essas imagens “banais”
Quase não mais a ninguém encantam
Até se espantam pensando;
- o que será que ela quer mostrar?!
Nada é inédito ou impactante,
Televisivo ou liberador de adrenalina!

As pessoas não se apercebem de que,
Não há dois momentos iguais ou dois olhares idênticos.
Olham mas não veem o entorno, as mil e uma formas, tons e aromas
de que é constituída a bela e rica Mãe-natureza,
fonte de nossa vida, - hoje, um obsoleto objeto de contemplação.
Não se apercebem dos desejos imanentes de seu próprio ser,
Sempre a correr para novos estímulos que lhe são impostos.

Se pudessem tirar  a atenção das redes sociais,
dos aparelhos eletrônicos viciantes,
das garrafas alcóolicas com seus inebriantes
caminhos de fuga – entre outros mecanismos de defesa -,
que permitem um não se ver, não saber, não ser!
Se pudessem voltar a alegria pueril, infantil,
Encher os pulmões de ar, de prana...
Dançar no seu próprio ritmo... celebrando a vida!

Cocais, fevereiro/2013
Heloisa Trad

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Céu e terra


.
Alço voo sobre as nuvens
A procura dos anjos da fé
Encontro o infinito azul
E estendo minha mão
Numa tentativa de encontro.

Olho para baixo
E lá está a terra devastada
Pela insensatez humana
Em todo lugar encontrada,
Por uma luta de poder acelerada.

O avião segue em linha de cruzeiro
Poderá chegar a algum destino
Poderá cair num precipício
Me levando não ao lar almejado
Mas me atirando direto ao inferno...

Não importa!
A busca continua independente do resultado
Talvez o nosso destino seja somente caminhar.
Que as forças não nos faltem é preciso
Senão à beira do caminho iremos ficar.

Cocais, fevereiro/2013
Heloisa Trad

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Dor e cansaço



Dor,
Velhice,
Solidão,
Cansaço,
De tanta emoção,
E muita desilusão.

Um pássaro, sem pouso
Um barco, sem leme
Um caminhar, sem rumo
Um dia, sem amanhã
Pensamentos que vem e que vão
E uma vontade enorme de dormir.

Árvore desfolhada,
Céu cinzento,
No agito do vento,
No silêncio aterrador,
Que gela até a alma
E no qual nada vibra.

O cansaço é muito
De brincar de viver,
Quando estou a morrer.
Meus olhos secaram,
Minha boca está muda,
Faz-se mister ... o fim!

Cocais, fevereiro/2013
Heloisa Trad

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Mascarado vive-se




Vestir-se para o carnaval
Muitas vezes é o tirar da máscara
Em que se esconde no dia-a-dia
Como mecanismo de defesa
Que não permite ao outro
Saber como se é
Ou quem não se é.

Um modo ilusório de viver
Pensando em não sofrer,
Com medo de ser magoado
Rejeitado ou mal amado,
Cobrado e controlado
nesse faz-de-conta vil
traindo a si nesse usual.

Nos efêmeros dias de folia
Se despe, tira a máscara,
Permitindo o aflorar de desejos,
A realização de sonhos,
Numa transgressão de regras
Que leva a mágicos momentos
De encontro consigo mesmo.

Cocais, fevereiro/2013
Heloisa Trad

Está tudo certo



Está tudo certo.
O certo e o errado
O bem e o mal
O bom, o ruim
O positivo, o negativo e a neutralidade

Está tudo certo.
Tudo é vivência
Grandes e pequenas experiências
Que levam a evolução
- até mesmo a uma aparente involução -

Está tudo certo.
Nascer, morrer, transformar
Nada se perder, nada se criar
Nessas alternâncias de estados
Onde pensamos que algo sabemos

Está tudo certo.
Nada a fazer
Somente viver com plenitude
Nossa total impotência
Como um micro num universo macro

Cocais, fevereiro/2013
Heloisa Trad