no rio
as águas correm soltas,
livres
na vida
tentamos moldar a corrente
construindo represas
barragens, usinas,
pontes
que as águas tudo derrubam
e seguem, ora rugindo,
ora silenciosamente deslizando,
em meio a obstáculos
que vagarosamente
e inexoravelmente
vão sendo levados
pela corrente
há três formas
de se lidar com o rio:
em suas águas mergulhamos
e seguimos a corrente
ou sentamos a beira do mesmo
e aprendemos silenciosa e pacientemente
a ouvi-lo
também podemos
dar-lhe as costas
e em direção contrária seguir
perdendo sua música,
o saciar de nossa sede,
os peixes que matam nossa fome
e, sobretudo, o acariciar inigualável das águas
em nossa pele seca
vou sentar-me à margem do rio
a ouvi-lo ...
até que eu e ele sejamos um
sem conflitos, sem medos,
sem indagações sobre foz ou nascente
fluindo simplesmente
porque é rio
Cocais, março/2009
Heloisa Trad
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