Somente o poeta fala do indizível. Só o poeta com suas palavras prenhes, num silêncio visado pelas imagens poéticas, é projetado a partir da própria poesia. E isso implica em que ele constitui, nas suas ramificações internas, o silêncio como um outro em direção ao qual está o caminho, está esse 'outro', o projeto - que é o sentido - de uma linguagem articulada que não pode absorvê-lo sem se aniquilar. O silêncio fala! Só o poeta fala desse silêncio que diz o não-dito...
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Uma peça
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Natal
presépio
árvore
Compras desenfreadas
ceias de pura gula
competição
celebração alegre
Cocais, dezembro/2009
Heloisa Trad
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
A beleza
e só é possível ver
se de lado ficar conceitos e preconceitos,
deixando o já visto, para surgir o que há de se ver.
Mente vazia, coração pacífico,
um olhar virginal descobre
no agora o novo.
Podendo então a beleza aparecer.
Cocais, novembro/2009
Heloisa Trad
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Amor maior
domingo, 15 de novembro de 2009
Não me adapto
domingo, 8 de novembro de 2009
Espelho
sábado, 7 de novembro de 2009
Eu Sou Feliz
Encontro/Desencontro
a todo momento eu te perco
uma oscilação atordoante
uma visão que como a de um oásis
para o peregrino perdido, logo se esvai
e a crua realidade da sobrevivência cai
esquecer-te é o meu desejo
mas como faze-lo se teimas
em viver em mim?
pensar no que foi, ou pior,
no que poderia ser
é um ato do qual não me livro
me perco na luta de vida e morte
para me esquecer de ti
que é o mesmo que esquecer de mim.
Cocais, outubro/2009
Heloisa Trad
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Quem?
domingo, 25 de outubro de 2009
Ânsia
sábado, 17 de outubro de 2009
Nomes vazios
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Desiludida
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Recortes na montanha
O tempo
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Sonho
Muito sono eu tenho.
Cocais, agosto/2009
domingo, 23 de agosto de 2009
Só uma imagem
sábado, 22 de agosto de 2009
Dormir sem sonhos
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Noite escura
Não posso sonhar
Cocais, ago/2009
Esquecer é preciso
A todo momento eu te encontro
Cocais, ago/2009
terça-feira, 30 de junho de 2009
A morte, o morrer
quinta-feira, 11 de junho de 2009
O Círculo
segunda-feira, 8 de junho de 2009
A Muralha
que se faz presente
e mantem ausente o indesejado,
dificultando a aproximação do desejado.
Muro denso, alto, intimidador,
que ensombrea meu espaço
de cimento, pedras, areia.
Forte e frio agride olhos com sua figura
e encobre o horizonte, sonho de aventura.
A muralha me separa de você,
me separa de mim,
tira a luz do meu caminho
e me deixa envolvida por sombras.
Cocais, junho/2009
Heloisa Trad
Linda e Feia
quando me via feia.
Já me acharam feia
quando me sentia linda.
Já me olhei no espelho
e me vi linda.
Entre a minha imagem ideal
e a do espelho não havia diferenças.
Também já me vi feia,
Ao olhar meu reflexo, pensei:
- não pode ser eu!
Independente de linda ou feia
era e é sempre eu.
Hoje não consulto mais o espelho.
Sou linda!
Se você não me vê assim...
O problema é seu!
Minhas pernas doem,
mas minha cabeça já não pesa tanto.
Ando devagar
mas saio sem buscar aprovação de alguém.
Minha mente falha,
esqueço nomes, esqueço datas, esqueço lugares.
Minha memória está cada vez mais seletiva,
descartando o que tem pouco ou nenhum significado.
Guarda com carinho os momentos bons,
registra para sempre os grandes amores...
Ignora todos os valores
que não são genuinamente meus!
Hoje sou linda... hoje eu sou eu!
Cocais, junho/2009
Heloisa Trad
Oliveira
nomes que lembram meu pai.
Janeiro do seu nascimento,
junho de sua inevitável morte
ao sessenta e sete anos de idade.
Por aqui Celestino passou,
lembranças e saudades deixou.
Marcou o meu ser,
completou sua missão
e ao pó voltou ...
Careca, olhos azuis,
a me fitar com integridade,
ao segurar minha mão
rumo ao Parque Municipal
no passeio dominical.
No carrossel em rodopio
ficava a sonhar
com boneca, pipoca e sorvete
na segurança de filha amada
protegida por esse homem valente,
de Valença... Península Ibérica.
Seus amores eram o tango,
- el dia que me quieras, o predileto –
Omar Kháyyam, espiritismo, maçonaria
ternos de linho, chapéu
e a linda Geroliza – minha mãe.
Que saudades dele meu Deus!
Cocais, maio/2009
Heloisa Trad
Em homenagem e ele, de Kháyyam:
“O bem e o mal disputam a primazia neste mundo.
O Céu não é responsável pela felicidade
ou pela desventura que o destino nos reserva.
Não agradeças pois, ao Céu, não o acuses também.
Ele é indiferente às tuas alegrias,
Indiferente aos teus pesares”.
sábado, 23 de maio de 2009
A beleza, o fotografo e o poeta
no olhar do fotografo?
no objeto olhado?
no coração do poeta
que a imagem contempla?
são as mesmas verdades
são as mesmas belezas...
há nisso tudo unicidade
ou sincronicidade...
o que para mim é beleza?
ilusão da minha mente
- mente de poeta -
que imagina e sente
com os olhos a essência
dessa flor que
numa película foi entronizada
como a mais linda rainha
por mim fantasiada!
o fotografo, a flor e o poeta
numa cumplicidade ímpar
buscam a efêmera beleza
buscam a essência, a vida,
- ilusória ou não –
capturadas em seus olhos
em ínfimas frações de tempo
a serem eternamente registradas.
Cocais, maio/2009
Heloisa Trad
sábado, 25 de abril de 2009
Palavras Sem Sentido
A palavra dada e desvalorizada
A palavra não enunciada
- palavra silenciada.
Palavras ditas e não pensadas
Palavras pensadas e não ditas
Se amontoam como lixo arqueológico
Para mais tarde serem interpretadas
Com significados que não tinham
Sem os significados que retinham
Inconsequentemente articuladas
Ouvidas distraidamente
Por mentes despreparadas
São verdadeiras agressões ao ser
Ou, nem são captadas...
Voam ao leu!
O sentido das palavras
Se perde no sem sentido
Invoca o silêncio que fala mais alto
Invoca o escutar o que o silêncio diz
O meu silêncio, o seu silêncio
Tão rico de sentido
Porque sem palavras sem sentido.
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
No escuro
No escuro eu procuro
No escuro uma luz eu procuro
No escuro eu me procuro
No escuro eu me vejo
No escuro eu anseio
No escuro eu caminho
No escuro um caminho encontrei
No escuro eu me vi
No escuro eu me achei
No escuro descobri
Quem eu sou e que só eu sei
No escuro tudo ficou claro
Como o sol de meio dia
Para quem pouca visão tem
Até perceber que a luz vem de dentro de mim
No escuro me ilumino...
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
Quem é você?
Que se esconde de mim
Que se esconde de si
Para depois aos dois procurar
Numa insanidade sem fim?
Quem é você
Que no escuro da noite
Brilha qual facho de luz
Alumiando o caminho
Para você e para mim?
Quem é você
Que leva meus sonhos
Que me traz mil desejos
E depois se afasta de mim
E desconhece até mesmo a si?
Quem é você
Que acalenta minhas esperanças
Que me lança num poço
Solitária, em silêncio, sem fé
E permite que eu me perca de mim?
Quem é você
Amigo ou inimigo
Que colado em mim
Não me deixa esquecer
De me lembrar de mim?
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
Ser uma pedra
Nada sentir
Nada pensar
Nada desejar
Tudo suportar
Deixar-me ficar
A céu aberto
Imune às intempéries
Tudo suportar
Um transporte
Pega por mãos
Pega por guindastes
Tudo suportar
Ser quebrada
Triturada e espalhada
Pelo mundo que criastes
Quero ser uma pedra
Sem rancor...
Sem dor...
Quieta só a testemunhar
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Só vim me conhecer
Cansada em silêncio
me afastei do dito social,
me afastei de grupos,
de lugares movimentados,
de relações que nada me dizem...
Telefone eu atendo,
e-mails escrevo pouco
chats? – Nem pensar.
falar o quê?
para quem?
para quê?
das insanidades do mundo,
da Terra, do Brasil...
me afastei!
Estou cansada
há muito tempo...
Hoje falo com poucos e pouca coisa.
Não quero ser nada.
Não quero ter nada.
Não quero nada!
Não busco ter razão.
Não procuro ser boa.
Não mostro ter algum conhecimento
e muito menos saber para alguém.
É isso. Só isso.
O resto é silêncio...
Silêncio que me conforta,
me alimenta,
me fala,
me ouve...
E cansada, sigo o caminho
iluminado por ele.
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
Eu sou feita
Eu sou feita
de cacos de sonhos descartados.
Sou feita
de lágrimas e sorrisos sem razão de ser.
Sou feita
de mil lembranças e milhões de esquecimentos.
Sou feita
de atos impensados originados de pulsões.
Sou feita
de instintos mais primitivos do que dos cães.
Por isso escrevo quase numa obsessão,
livre e descompromissadamente
sem ter que denunciar nada,
criticar nada, louvar nada
ou agradar alguém.
Só escrevo...
no papel, com lápis, com caneta,
com o microcomputador.
Simplesmente escrevo,
palavras que voam da minha mente,
com rima, sem rima,
com sentido, sem sentido,
permitindo-me expor
como sou feita.
Então escrevo e escrevo...
detalhes percebidos,
acontecimentos vividos
ou idealizados,
expectativas não realizadas,
que quero elaborar, pondo fora,
o que está dentro de mim!
Jorram poemas, poesias...
pequenas peças da qual eu sou feita.
Preciso escrever...
Escrevo...
meus encantos e desencantos
escondidos num canto do meu ser.
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
domingo, 29 de março de 2009
A palavra e a pedra
É... ser pedra!
Pedra, não é interpretada.
Pedra é sentida, pesada,
pegada, quebrada,
jogada, largada,
jamais interpretada
como uma palavra enfim.
Eu não quero ser palavra,
que analisa e é analisada,
imbuída em conceitos,
distorcida, ela pode ser
mal ou bem interpretada
sem atingir a verdade,
realmente pensada
e sentida por mim.
A pedra é pedra
sem discussão, sem alteração,
na sua grandeza imutável.
A palavra pode à vontade
ser usada a bel-prazer
de quem fala e escuta
tornar-se um bálsamo
ou um instrumento mortal.
Eu quero ser pedra...
Cocais, março/2009
Heloisa Trad
Água purificadora
Cansado
é estar esgotado
não mais querendo
estar apegado
a rotina da vida,
ao viver normativo
calcado no ter.
O cansaço surge
ao se sentir diferente
ao querer entender o ente
só podendo ser expresso
na linguagem poética.
A palavra de poeta
é suada, carregada
de metáforas, de sonhos,
fantasias...
Na busca do ser!
Ao expressar o sentir
A palavra não pode ser
pensada, analisada,
e muito menos interpretada
senão estamos de volta
ao ponto de partida
sem cansaço sentir.
Cocais, março/2009
Heloisa Trad
sexta-feira, 13 de março de 2009
A vida é um rio
as águas correm soltas,
livres
na vida
tentamos moldar a corrente
construindo represas
barragens, usinas,
pontes
que as águas tudo derrubam
e seguem, ora rugindo,
ora silenciosamente deslizando,
em meio a obstáculos
que vagarosamente
e inexoravelmente
vão sendo levados
pela corrente
há três formas
de se lidar com o rio:
em suas águas mergulhamos
e seguimos a corrente
ou sentamos a beira do mesmo
e aprendemos silenciosa e pacientemente
a ouvi-lo
também podemos
dar-lhe as costas
e em direção contrária seguir
perdendo sua música,
o saciar de nossa sede,
os peixes que matam nossa fome
e, sobretudo, o acariciar inigualável das águas
em nossa pele seca
vou sentar-me à margem do rio
a ouvi-lo ...
até que eu e ele sejamos um
sem conflitos, sem medos,
sem indagações sobre foz ou nascente
fluindo simplesmente
porque é rio
Cocais, março/2009
Heloisa Trad