Somente o poeta fala do indizível. Só o poeta com suas palavras prenhes, num silêncio visado pelas imagens poéticas, é projetado a partir da própria poesia. E isso implica em que ele constitui, nas suas ramificações internas, o silêncio como um outro em direção ao qual está o caminho, está esse 'outro', o projeto - que é o sentido - de uma linguagem articulada que não pode absorvê-lo sem se aniquilar. O silêncio fala! Só o poeta fala desse silêncio que diz o não-dito...
sábado, 25 de abril de 2009
Palavras Sem Sentido
A palavra dada e desvalorizada
A palavra não enunciada
- palavra silenciada.
Palavras ditas e não pensadas
Palavras pensadas e não ditas
Se amontoam como lixo arqueológico
Para mais tarde serem interpretadas
Com significados que não tinham
Sem os significados que retinham
Inconsequentemente articuladas
Ouvidas distraidamente
Por mentes despreparadas
São verdadeiras agressões ao ser
Ou, nem são captadas...
Voam ao leu!
O sentido das palavras
Se perde no sem sentido
Invoca o silêncio que fala mais alto
Invoca o escutar o que o silêncio diz
O meu silêncio, o seu silêncio
Tão rico de sentido
Porque sem palavras sem sentido.
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
No escuro
No escuro eu procuro
No escuro uma luz eu procuro
No escuro eu me procuro
No escuro eu me vejo
No escuro eu anseio
No escuro eu caminho
No escuro um caminho encontrei
No escuro eu me vi
No escuro eu me achei
No escuro descobri
Quem eu sou e que só eu sei
No escuro tudo ficou claro
Como o sol de meio dia
Para quem pouca visão tem
Até perceber que a luz vem de dentro de mim
No escuro me ilumino...
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
Quem é você?
Que se esconde de mim
Que se esconde de si
Para depois aos dois procurar
Numa insanidade sem fim?
Quem é você
Que no escuro da noite
Brilha qual facho de luz
Alumiando o caminho
Para você e para mim?
Quem é você
Que leva meus sonhos
Que me traz mil desejos
E depois se afasta de mim
E desconhece até mesmo a si?
Quem é você
Que acalenta minhas esperanças
Que me lança num poço
Solitária, em silêncio, sem fé
E permite que eu me perca de mim?
Quem é você
Amigo ou inimigo
Que colado em mim
Não me deixa esquecer
De me lembrar de mim?
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
Ser uma pedra
Nada sentir
Nada pensar
Nada desejar
Tudo suportar
Deixar-me ficar
A céu aberto
Imune às intempéries
Tudo suportar
Um transporte
Pega por mãos
Pega por guindastes
Tudo suportar
Ser quebrada
Triturada e espalhada
Pelo mundo que criastes
Quero ser uma pedra
Sem rancor...
Sem dor...
Quieta só a testemunhar
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Só vim me conhecer
Cansada em silêncio
me afastei do dito social,
me afastei de grupos,
de lugares movimentados,
de relações que nada me dizem...
Telefone eu atendo,
e-mails escrevo pouco
chats? – Nem pensar.
falar o quê?
para quem?
para quê?
das insanidades do mundo,
da Terra, do Brasil...
me afastei!
Estou cansada
há muito tempo...
Hoje falo com poucos e pouca coisa.
Não quero ser nada.
Não quero ter nada.
Não quero nada!
Não busco ter razão.
Não procuro ser boa.
Não mostro ter algum conhecimento
e muito menos saber para alguém.
É isso. Só isso.
O resto é silêncio...
Silêncio que me conforta,
me alimenta,
me fala,
me ouve...
E cansada, sigo o caminho
iluminado por ele.
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad
Eu sou feita
Eu sou feita
de cacos de sonhos descartados.
Sou feita
de lágrimas e sorrisos sem razão de ser.
Sou feita
de mil lembranças e milhões de esquecimentos.
Sou feita
de atos impensados originados de pulsões.
Sou feita
de instintos mais primitivos do que dos cães.
Por isso escrevo quase numa obsessão,
livre e descompromissadamente
sem ter que denunciar nada,
criticar nada, louvar nada
ou agradar alguém.
Só escrevo...
no papel, com lápis, com caneta,
com o microcomputador.
Simplesmente escrevo,
palavras que voam da minha mente,
com rima, sem rima,
com sentido, sem sentido,
permitindo-me expor
como sou feita.
Então escrevo e escrevo...
detalhes percebidos,
acontecimentos vividos
ou idealizados,
expectativas não realizadas,
que quero elaborar, pondo fora,
o que está dentro de mim!
Jorram poemas, poesias...
pequenas peças da qual eu sou feita.
Preciso escrever...
Escrevo...
meus encantos e desencantos
escondidos num canto do meu ser.
Cocais, abril/2009
Heloisa Trad