sábado, 25 de abril de 2009

Palavras Sem Sentido

As palavras pelas bocas são jorradas
A palavra dada e desvalorizada
A palavra não enunciada
- palavra silenciada.

Palavras ditas e não pensadas
Palavras pensadas e não ditas
Se amontoam como lixo arqueológico
Para mais tarde serem interpretadas
Com significados que não tinham
Sem os significados que retinham
Inconsequentemente articuladas
Ouvidas distraidamente
Por mentes despreparadas
São verdadeiras agressões ao ser
Ou, nem são captadas...
Voam ao leu!

O sentido das palavras
Se perde no sem sentido
Invoca o silêncio que fala mais alto
Invoca o escutar o que o silêncio diz
O meu silêncio, o seu silêncio
Tão rico de sentido
Porque sem palavras sem sentido.

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

No escuro

No escuro eu me escondo
No escuro eu procuro
No escuro uma luz eu procuro
No escuro eu me procuro

No escuro eu me vejo
No escuro eu anseio
No escuro eu caminho
No escuro um caminho encontrei

No escuro eu me vi
No escuro eu me achei
No escuro descobri
Quem eu sou e que só eu sei

No escuro tudo ficou claro
Como o sol de meio dia
Para quem pouca visão tem
Até perceber que a luz vem de dentro de mim

No escuro me ilumino...

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

Quem é você?

Quem é você
Que se esconde de mim
Que se esconde de si
Para depois aos dois procurar
Numa insanidade sem fim?

Quem é você
Que no escuro da noite
Brilha qual facho de luz
Alumiando o caminho
Para você e para mim?

Quem é você
Que leva meus sonhos
Que me traz mil desejos
E depois se afasta de mim
E desconhece até mesmo a si?

Quem é você
Que acalenta minhas esperanças
Que me lança num poço
Solitária, em silêncio, sem fé
E permite que eu me perca de mim?

Quem é você
Amigo ou inimigo
Que colado em mim
Não me deixa esquecer
De me lembrar de mim?

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

Ser uma pedra


Ser uma pedra
Nada sentir
Nada pensar
Nada desejar

Tudo suportar
Deixar-me ficar
A céu aberto
Imune às intempéries

Tudo suportar
Um transporte
Pega por mãos
Pega por guindastes

Tudo suportar
Ser quebrada
Triturada e espalhada
Pelo mundo que criastes

Quero ser uma pedra
Sem rancor...
Sem dor...
Quieta só a testemunhar

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Só vim me conhecer

Não sou daqui
estou aqui.
VIM
pelo vir-a-ser,
ME
autocriar nesse amanhecer
CONHECER
o entardecer ... a longa noite ...
E ENCONTRAR
a aurora do meu ser !
O SER,
que cria a ilusão de não ser ...

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

Cansada em silêncio

Há muito que necessito do silêncio
me afastei do dito social,
me afastei de grupos,
de lugares movimentados,
de relações que nada me dizem...

Telefone eu atendo,
e-mails escrevo pouco
chats? – Nem pensar.
falar o quê?
para quem?
para quê?
das insanidades do mundo,
da Terra, do Brasil...
me afastei!

Estou cansada
há muito tempo...
Hoje falo com poucos e pouca coisa.
Não quero ser nada.
Não quero ter nada.
Não quero nada!

Não busco ter razão.
Não procuro ser boa.
Não mostro ter algum conhecimento
e muito menos saber para alguém.

É isso. Só isso.
O resto é silêncio...
Silêncio que me conforta,
me alimenta,
me fala,
me ouve...
E cansada, sigo o caminho
iluminado por ele.

Cocais, abril/2009
Heloisa Trad

Eu sou feita


Eu sou feita

de cacos de sonhos descartados.

Sou feita

de lágrimas e sorrisos sem razão de ser.

Sou feita

de mil lembranças e milhões de esquecimentos.

Sou feita

de atos impensados originados de pulsões.

Sou feita

de instintos mais primitivos do que dos cães.

Por isso escrevo quase numa obsessão,

livre e descompromissadamente

sem ter que denunciar nada,

criticar nada, louvar nada

ou agradar alguém.


Só escrevo...

no papel, com lápis, com caneta,

com o microcomputador.

Simplesmente escrevo,

palavras que voam da minha mente,

com rima, sem rima,

com sentido, sem sentido,

permitindo-me expor

como sou feita.


Então escrevo e escrevo...

detalhes percebidos,

acontecimentos vividos

ou idealizados,

expectativas não realizadas,

que quero elaborar, pondo fora,

o que está dentro de mim!


Jorram poemas, poesias...

pequenas peças da qual eu sou feita.

Preciso escrever...

Escrevo...

meus encantos e desencantos

escondidos num canto do meu ser.


Cocais, abril/2009

Heloisa Trad